sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Todo dia é ano novo

E aqui estamos, retornando ao início. Um retorno relativo, certamente. Mas para muitas pessoas o simbolismo de um novo ano é também a esperança de renovação. Assim, vamos celebrar aquilo que todos os dias é revelado, mas que imaginamos ocorrer apenas em um dia simbólico.

Que todos os dias sejam novos, como sempre são. Que as oportunidades de começar novamente permaneçam disponíveis, mesmo sob o risco de a maioria não compreender como a mudança é abundante a cada manhã.

Oportunidades serão perdidas, mas as sementes de muitas outras continuarão a germinar.

As ondas da existência golpeiam as areias do tempo. Como uma maravilhosa sinfonia, o som do universo reverbera em nossas palavras, atos e pensamentos. Estamos todos imersos em um eterno retorno, uma implacável onda de renovação e mudança. Somos todos novos, e jamais seremos o que antes imaginamos ser. O retorno, esse sonho de renovação, não é feito do mesmo material de nosso passado.

Não, você não irá obter de volta oportunidades que já se foram. O que irá acontecer amanhã -- na verdade, o que acontece todas as manhãs -- será a anunciação de novas oportunidades para a superação das suas ignorâncias, a cura do canceroso egoísmo a devorar a frágil rede de sua consciência.

Precisamos desta rede de plena atenção. Com ela, e apenas com ela, poderemos pescar as joias de sabedoria dispersas no oceano da vida. Genshō Oshō nos ensina, "Passa um Buda ao nosso lado, e somente enxergamos um homem comum". Todos os dias, deixamos passar essas joias de esclarecimento. Alas, jogamos as pérolas aos porcos, e sequer compreendemos o trágico desperdício.

Continuamos a esperar o próximo retorno. A próxima porta está sempre aberta, mas insistimos esperar a passagem para uma felicidade idealizada. Ela não vem, e mesmo quando imaginamos encontrá-la, ela se mostra estranha, imprevista, impossível de definir.

Sim, a felicidade é possível. Muitos de vocês podem vivê-la, e talvez até a tocaram levemente em um dia qualquer. O sorriso de um filho querido, o carinho da pessoa amada, a beleza de uma nuvem a passar... a felicidade nos envolve todo o tempo, e no entanto nos falta discernimento para entendê-la plenamente. Como um suave toque de brisa em nosso rosto, a felicidade acaricia de passagem nossa mente anuviada. Um dia, quem sabe, poderemos nela habitar.

Ah, quantas maravilhas surgem em nossa vida! Apesar dos medos, das dores e das curvas no caminho, é possível começar novamente; é possível encontrar a cura para as feridas do coração.

Assim, a inexplicável impermanência permanece. Um paradoxo a encantar o universo, um absurdo a definir nossas vidas a cada momento.

E a roda continua a girar. Eterno giro, eterno retorno ao momento presente. Celebremos o hoje. E com o coração pleno de amor, vamos recitar todos os dias a canção da vida.

Que todos sejam felizes. Que muito breve a clareza da sabedoria plena surja em suas mentes. Por favor, pratiquem a paz. Por favor, se esforcem em prol da compaixão. Se não amarmos uns aos outros, não será possível haver cura para o mundo.

E a bela chama continua a iluminar na noite escura. Seguirei, confiante, a tênue luz. Ela me guiará, clara e firme, de volta ao meu verdadeiro lar.

Que assim seja.

"O Eterno Retorno", dezembro 2017

Em nome do Dharma,
Monge Kōmyō