segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Será sorte ou azar?

Havia um homem que, considerava-se absolutamente sem sorte. Tudo o que ele fazia dava errado. Quando ia plantar suas sementes, os passarinhos as comiam ou a chuva forte as levava, e, quando isso não acontecia, a seca acabava com suas plantações. Ele reclamava o tempo todo. Suas queixas contínuas faziam as pessoas se afastarem dele. Todos o consideravam um chato e, com isso, ele vivia muito só. Isso reforçava sua crença no azar. E ele não conseguia entender a razão de tanta falta de sorte.

Um dia, resolveu tomar uma atitude e ir procurar um grande mestre que vivia em uma floresta a muitos quilômetros de sua cidade. Depois de andar muitos dias, logo ao entrar na floresta, ele se deparou com um lobo muito magro, sem pelos, que lhe falou: “Moço, me ajude. Não sei o que está havendo comigo. Estou sem forças. Não consigo ir ao rio beber água. Dessa forma, vou morrer”. O moço respondeu: “Não posso ajudá-lo. Estou indo atrás de um mestre para me dizer sobre o meu azar na vida.” “Então, pergunte ao mestre o que está acontecendo comigo”, falou o lobo. E o homem continuou seu caminho.

Já no meio da floresta, ao tropeçar numa raiz, viu uma árvore quase sem folhas, com os galhos retorcidos e a casca soltando do tronco, e que, ao ver o espanto do homem, lhe disse: “Não sei o que está acontecendo comigo. Estou muito doente. Há seis meses minhas folhas estão caindo”. Depois da conversa, ela pediu ao homem que solicitasse ao mestre uma solução para seus problemas. E ele continuou sua jornada. Depois de alguns dias, andando, chegou a um vale cheio de flores de várias cores e perfumes. Ele nem reparou nisso e avistou uma casa. Diante dela, estava uma moça lindíssima, que, depois de uma longa conversa, também lhe pediu um favor: “Pergunte ao mestre por que sinto tanto vazio no peito, sem nenhum motivo. O que devo fazer?”. Depois de mais alguns dias de caminhada, ele encontrou o sábio mestre.

O homem contou toda a sua triste vida e o mestre lhe disse: “Sua sorte está no mundo, nas pessoas, nas coisas, nas circunstâncias”. Quando o homem ia saindo, o mestre lhe perguntou: “Você não está se esquecendo de alguma coisa? Dar respostas à árvore, ao lobo e à jovem”, disse.

Ele saiu em disparada. Na volta, encontrou uma moça: “O mestre disse que minha sorte está no mundo e que o que você sente é solidão e que, se você encontrar um companheiro, será muito feliz”. A moça então lhe perguntou: “Você quer ser esse companheiro?”. Ele respondeu: “Não, não foi para ficar aqui que fiz essa viagem”. E saiu correndo. Encontrou-se com a árvore, que lhe cobrou a resposta do mestre: “Ele disse que você está morrendo porque no meio de suas raízes há uma caixa de ferro cheia de moedas de ouro. Se você cavar e tirar esse tesouro, você será saudável novamente”. A árvore disse: “Faça isso para mim. Você pode ficar com o tesouro”. “O mestre falou que minha sorte está no mundo, não posso perder tempo. Adeus.” O moço saiu correndo de volta para casa. Atravessando a floresta, encontrou o lobo, que estava ainda mais magro e mais fraco. “O mestre mandou lhe dizer que você não está doente. Você tem fome e, como não tem forças para caçar, vai morrer aí mesmo, a não ser que algum estúpido passe por aqui e você consiga comê-lo.” O lobo reuniu o resto de suas forças e comeu o homem “sem sorte”.

Acreditar em sorte ou azar é uma forma de cegueira. As oportunidades e as ameaças estão à nossa volta, todo o tempo. Enquanto procuramos um culpado – o destino – para nossa vida, as oportunidades passam e nada fazemos. Não mudamos a partir de nossos erros e ficamos à mercê dos infortúnios.

antonio.roberto@uai.com.br